Haverá aqui alguma contradição?
Mais uma resposta a uma "pergunta" que um espírita me colocou:
PERGUNTA: Deus não foi conhecido por Abraão, Isaac e Jacob pelo nome de Jahveh (Êxodo 6:2-3). Todavia, como lemos em textos anteriores, o nome do Senhor já era conhecido (Génesis 4:26). Haverá aqui alguma contradição?
RESPOSTA: De facto, Deus revelou-Se a Abraão (Gn 17:1) a Isaac (Gn 35:11) e a Jacob (Gn 48:3) como Deus Todo-Poderoso (El -Shaddai) e não com o nome mais sublime, mais excelso, como aconteceu relativamente a Moisés (Ex 6:2-3).
Deus possui vários nomes e pode revelar-Se de várias maneiras a cada um dos mortais.
Acerca dos nomes de Deus podemos dizer que logo no início da Bíblia, aparece a palavra Elohim, quando diz que “no princípio criou Deus os céus e a Terra” (Gn 1:1).
Este nome de Deus surge mais de duas mil vezes em todo o Antigo Testamento. Há outros nomes que aparecem na Bíblia como El (donde vem El-Elyom e El-Shaddai) e Adonai.
Naturalmente que Deus tem muitos nomes, mas há um que sobressai acima de todos os outros.
Os copistas israelitas até mudavam de pena (caneta) para escrever esse nome. E depois, escreviam de uma tal maneira, sem as vogais (que em hebraico são traços e pontos por debaixo das consoantes) para que as pessoas não o pronunciassem, na sua leitura.
Por isso, na actualidade, e dispondo apenas do tetragrama, com as consoantes (correspondentes às nossas YHWH), será difícil saber ao certo se seria Iavé, Jeová, Javé ou outro nome, dependendo das vogais que se introduzam junto das consoantes.
Algumas pessoas teimam em definir Deus com um determinado nome do qual não há certezas. O que transitou para o nosso tempo foi o tetragrama, com as quatro consoantes, que não se conseguem ler sem a introdução das vogais.
Seguidores de certos movimentos costumam agarrar-se muito a uma determinada palavra, dizendo que ela representa o nome de Deus e que é importante para O definir, pois todos os deuses têm nome.
Ora, a realidade é que o Deus verdadeiro tem vários nomes e os outros... bem, os outros, simplesmente não existem!
O nome mais importante de Deus (YHWH) foi traduzido, na versão portuguesa de João Ferreira de Almeida (Revista e Corrigida), por SENHOR e em algumas traduções inglesas por LORD, escrito assim desta maneira, com letras maiúsculas.
Em Êxodo 6:2-3 diz: “Falou Deus a Moisés e disse: Eu sou o SENHOR. E eu apareci a Abraão, a Isaac e a Jacob, como o Deus Todo-Poderoso, mas pelo meu nome, o SENHOR, não lhes fui perfeitamente conhecido”.
Claro que o SENHOR não foi perfeitamente conhecido pelos antepassados de Moisés.
Um Deus tão grande nunca é perfeitamente conhecido, mas podemos aproximar-nos d’Ele, cada vez mais!
É sempre possível dar mais um passo para o Senhor e conhecê-Lo ainda melhor. Sabemos que Moisés foi um servo muito especial, com quem o Senhor falava cara a cara ou boca a boca, como nunca havia acontecido com mais ninguém.
Apesar de Deus já Se haver revelado noutras ocasiões como o Todo-Poderoso, ainda era possível progredir mais nesta área. Aliás, Deus pode fazer tudo.
Ele é uma fonte inesgotável do sublime, maravilhoso, excepcional, poder... de tudo!
Diz a Bíblia: “…mas pelo meu nome, o SENHOR, não lhes fui perfeitamente conhecido” (Gn 6:3).
Isto não significa que eles não soubessem da existência deste nome! Quer dizer que não era conhecido em toda a sua plenitude, como aconteceu em relação a Moisés. Vejamos, então, o texto anterior. Em Génesis 4:26 diz o seguinte: “E a Sete também nasceu um filho; e chamou-se o seu nome Enos; então, começou-se a invocar o nome do SENHOR”.
De facto, a palavra é a mesma, significando que após o nascimento de Enos, filho de Sete, começou-se a invocar o nome do Senhor.
Porém, daí até um conhecimento profundo do Deus Todo-Poderoso ainda vai uma grande distância. Revelou-Se a Abraão, Isaac e Jacob como o Todo-Poderoso (El Saddai). Todavia, sabemos que Deus Se revelou a Moisés de um modo muito avançado, muito íntimo, muito próximo, como nunca tinha acontecido.
Moisés foi o servo de Deus escolhido para escrever o Pentateuco, ou seja, os cinco primeiros livros da Bíblia, que incluem os textos aqui mencionados. Aliás, não é apenas esta referência (Gn 4:26), mas várias outras como Génesis 4:1, 3, 4, 6, 9 etc., em que a palavra SENHOR aparece isolada e também em Génesis 2:4, 5, 7, 8, 9, 15, etc., em conjunto com outra, ou seja, SENHOR Deus.
Em Génesis 4:26 diz que o nome do SENHOR começou a ser invocado.
A palavra é a mesma que aparece mais adiante, porque era essa a maneira pela qual Moisés conhecia Deus. E, como ele já tinha conhecimento desse alto nome do SENHOR poderá ter usado o mesmo ao descrever o passado.
Foi Moisés que escreveu Génesis. Ele sabia que somente a partir do nascimento de Enos é que se começou a invocar o nome do Deus, que, para ele, já Se havia revelado como o SENHOR!
Por exemplo, algo de semelhante poderá acontecer connosco, quando referimos que Abraão saiu de Ur dos Caldeus, a fim de peregrinar na terra de Canaã, quando, afinal, nessa altura, o servo de Deus ainda se chamava Abrão e não Abraão.
Claro que a Bíblia respeita isso muito bem, mas nós podemos avançar um pouco, pois já sabemos o que vem a seguir.
Quando alguém se refere ao rei Eduardo VII, na sua infância ou juventude, não lhe chama príncipe Alberty, como era, então, conhecido, mas sim o nome que teria aos 51 anos!
Não considero errado designar Deus por um dos Seus nomes, que só mais tarde viria a ser conhecido.
Se o narrador dos factos já estava a par dos últimos acontecimentos, não vejo mal nisso. Moisés, o escritor de Génesis, conhecia este nome sublime e maravilhoso, porque Deus assim Se havia revelado. Ele podia escrever que, nessa altura, se começou a invocar o nome do SENHOR, não necessariamente pelo tetragrama (SENHOR) como depois O conheceu.
Acredito piamente no que a Bíblia diz acerca de tudo; inclusivamente quanto às revelações Divinas.
Deus revelou-Se a Moisés através de um nome excelente, mas, antes disso, já existia e já tinha esse nome, embora não perfeitamente conhecido.
As pessoas poderiam invocá-Lo através de um outro nome e noutras condições.
A Moisés revelou-Se de um modo excepcional.
No Novo Testamento, Deus revelou-Se através do Seu amado Filho, Jesus Cristo. A nós, foi o Espírito Santo que nos apresentou o Salvador!
Gostaria de agradecer a colaboração do irmão Agostinho Soares dos Santos
Escritor do livro "Religiões, Ocultismo e Nova Era"