Testemunho da ex-médium Mary Grace Hughes 1ª parte
14 anos envolvida no Espiritismo.
INFÂNCIA
Minha família era constituída por seis pessoas, papai, mamãe, eu minha irmã e meus dois irmãos. Minha mãe sofreu muito por causa das muitas ausências de meu pai. Mamãe era indiferente em relação à religião. Diziam-se católicos, porém simpatizantes do espiritismo... Naquela época os crentes eram muito marginalizados pela sociedade. Ser crente era ser inferior e sem cultura. Ser espírita ou mesmo simpatizante do espiritismo era uma “coqueluche” da cultura brasileira. Esta foi uma das causas da decadência moral, política e social do Brasil, pois a mente de um país espírita fica alienada a “carmas” sofrimento, pobreza, conformismo etc.
Quando tinha dez anos minha mãe sofreu de uma doença paroxística difusa que afectou sua personalidade. Foi internada num sanatório e isso machucou muito meu coração, pois eu a amava muito. Nesta ocasião meu pai já havia constituído nova família. Os divorciados eram muito discriminados e eu e meus irmãos passamos a ter dificuldades por ser filhos de pais separados. Muitas vezes fui convidada, a me retirar de uma casa (de meus amiguinhos) por ser filha de pais separados. Meu círculo de amizade passou a ser com crianças em situação igual ou semelhante à minha. Sem meu pai e minha mãe em casa minha vida passou a ser um tormento. Fui me tornando uma pessoa muito triste. Minha casa era o último lugar em que eu queria estar.
Passava a maior parte do meu tempo na rua. Sempre encontrava uma maneira de fazer dinheirinho para pipocas, sorvetes e material para construir meus próprios brinquedos. Eu sempre questionava o porquê daquele sofrimento.
ADOLESCÊNCIA
Com quatorze anos de idade começaram a acontecer fenômenos paranormais, em minha casa janelas abriam e fechavam, vultos passavam, e havia ruídos estranhos. Tinha impressão de que alguém estava em casa o tempo todo. Muitas vezes a temperatura da casa se modificava e dava a impressão de ambiente mal assombrado.
Uma vez recebi uma visita de uma prima, e um desses vultos se materializou para ela na forma de um macaco gigante. Ela ficou aterrorizada. Passei a ser muito sensitiva. Perdi o medo e passei a conversar com uma “presença” espiritual. Um dia esta presença se manifestou na forma de um índio e passei a ter vontade de vestir e agir como um índio. Pintei metade do meu rosto e fui pro quintal brincar de índio. (Neste tipo de manifestação é como se existisse uma mente paralela à da pessoa, não há confusão de personalidade, a pessoa tem plena consciência de si e da entidade. São duas mentes distintas).
Segundo os espíritas eu era uma médium, e para me livrar deveria desenvolver minha mediunidade num centro espírita. Não me interessei pela proposta. Às vezes eu ia ao centro espírita Kardecista para tomar passes. Lá eles falavam de Jesus e me confortavam. Eles me asseguravam que não existiam demônios nem Satanás e sim espíritos que interferiam em minha vida se não desenvolvesse a mediunidade. Naquela ocasião me tornei simpatizante do espiritismo. Enquanto isto a situação de minha família se agravava cada vez mais. Minha mãe nunca mais voltou a ser a mesma.
Comecei a freqüentar bares noturnos. O cigarro, a bebida e os amigos me fizeram sentir outra pessoa. Sentia-me livre e adulta. Finalmente encontrei um ambiente onde era aceita. Aos quinze anos eu já havia sido internada em um hospital psiquiátrico espírita por duas vezes. A enfermeira me levou a uma sala no interior do hospital onde pude observar os espíritos se comunicando através dos médiuns. Eram pessoas cultas e de alto nível social. Um ano mais tarde fui internada pela terceira vez no mesmo hospital. Meus exames médicos não acusavam nada. E eles sempre insistindo que eu deveria desenvolver minha mediunidade.
Internada em um Sanatório.
Meu pai me mandou para um hospício. As condições eram as piores possíveis, muita gente assustadora por causa da loucura e dos excessos de comprimidos. Procurava não tomar os comprimidos, mas um dia a enfermeira descobriu e passou a me obrigar e eu fiquei igual às outras internas: ria à toa e falava molemente. Fiquei seis meses no sanatório. Fui muito dopada com injeções, para calarem minha boca tendo em vista o que eu presenciara naquele lugar, inclusive maus tratos que levou à morte de uma interna.
De volta para casa
Quando saí do sanatório, voltei ao convívio com o título de “pancada” da cabeça. Achei amizade agora só com pessoas pervertidas, o que tinha de pior na cidade. Um dia orei a Jesus pedindo a Ele que queria ser uma moça normal. Queria ter alguém que me amasse. Sonhava em casar-me e sair daquela cidade. Eu tinha todos os sonhos de uma adolescente. Não queria ser espírita, não me interessava pelos mortos; não queria ser médium. Minha aparência melhorou e logo conheci meu futuro esposo e aqui neste testemunho vou chamá-lo de Carlos. Era de boa família, bom status social. Muitos o avisaram contra mim, mas ele fez seu próprio julgamento. Ele era católico praticante.
Arrumei um trabalho de manequim. Comecei a desfilar, as pessoas me aplaudiram eu era admirada e reconhecida. Passei a ser modelo exclusiva da Maruere, uma Cia Japonesa. Passei a ter um salário altíssimo. Agora o patinho feio se transformara num lindo Cisne. Três anos depois estava casada. Tive um lindo filho chamado Fábio. Já possuíamos um negócio de confecção. Com o passar dos anos meu casamento foi sofrendo um desgaste. Eu e o Carlos nos amávamos, mas não éramos felizes. Tentávamos de todo jeito até que o Carlos procurou um Centro Espírita Kardecista. Ele era de forte formação católica. Fiquei impressionada com esta decisão, mais ainda quando ele trouxe um recado de um médium que eu deveria ir lá também.
Quando não temos conhecimento da Bíblia e não sabemos quem estes espíritos realmente são, a experiência com os espíritos se torna a de uma “presa na rede”. A comunicação é real, eles não são um ente querido, mas demônios, espíritos familiares que passam na mesma família de geração em geração. Eles conhecem nossa vida, nossos antepassados e sabem de detalhes e segredos a nosso respeito que estavam ocultos. Através dos médiuns eles nos revelam o que viram e nos convencem que sua doutrina é verdadeira, principalmente porque falam o nome Jesus. Veja o que a bíblia diz sobre isto em 1 Timóteo 4:1. “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios.”
Na semana seguinte fui a uma sessão espírita. A médium atendia um a um antes da sessão de desobsessão. (Segundo o espiritismo, nesta sessão os espíritos dos mortos se manifestam através do médium. Eles são doutrinados e levados por outros espíritos para diversas partes do mundo espiritual dependendo da sua evolução e do tratamento que necessitam. Na maioria das vezes este espírito de luz também chamado de “anjo de luz”, mentor do centro ou do médium principal, manifesta-se dando uma mensagem).
O Crente em Jesus Cristo que conhece a Bíblia não se deixa enganar, pois assim diz a palavra de Deus: 2 Coríntios 11:13, 15 "Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. (referindo-se aos médiuns) E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros (médiuns) se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras".
Fiquei impressionada com as palavras de conhecimento da minha vida, sobre assuntos do dia-a-dia. Ele disse que eu tinha de estudar o Evangelho do Espiritismo, O livro dos espíritos e as obras de André Luiz. Se eu não o fizesse minha vida nunca seria próspera e os espíritos obsessores me perseguiriam, pois eles eram pessoas que em vidas passadas , nós havíamos prejudicado, perseguido, atormentado e em alguns casos até os assassinámos. Agora eles nos perseguem até que haja um acordo de paz ou uma reencarnação expiatória.
Aí, eu me perguntei: Porque fugir do espiritismo? Afinal eles falam em Jesus, praticam a caridade e nunca os ouvi falar que deveríamos praticar o mal. Mergulhei da cabeça no espiritismo. Dediquei-me a descobrir o que ensinavam. Fiquei impressionada quando eles me disseram que o Consolador, o espírito da verdade, que Jesus Cristo prometeu era o Espiritismo. Fiquei atônita porque esta teoria espírita explicava meus sofrimentos, os desajustes na minha família (só não os resolvia) explicava e alimentava o meu intelecto. Estava agora totalmente presa na rede.
Uma espírita actuante
Uma nova etapa começou em minha vida. Feliz pela literatura espírita que satisfazia meu intelecto, mas nunca a minha alma, e motivada pelo amor que eu nutria por Jesus, passei a seguir o Kardecismo. Seis meses após o meu encontro com aquele médium meu casamento acabou. O amor acabara. O espiritismo trouxe a solução para o nosso casamento: segundo os espíritos, nossa etapa juntos acabara; teríamos de seguir nosso destino, separados. Mais tarde eu já estava num relacionamento confuso e decadente, envolvimento este que me custou muito caro: meu filho, minha paz e minha saúde. Chamarei este indivíduo com o qual me envolvi de José. Muitas vezes quis sair deste relacionamento, mas era muito difícil. Era como se minha própria vontade nada valesse. Machucámos muitas pessoas por causa deste envolvimento, mas segundo os espíritos não adiantava lutar contra, pois nos reencontrávamos para uma nova etapa de evolução. Segundo os espíritos nossa união já havia sido ordenada antes de nos reencarnarmos. Sete meses mais tarde nos unimos para o bem ou para o mal. Mas só aconteceu o mal. José sofrera uma perseguição de seu melhor amigo, uma acção judicial que nos custou seis lojas de confecção mais a falência. Devido à falta de condições financeiras e instabilidade entreguei meu filho ao seu pai para cuidasse dele até que as coisas melhorassem. O menino tinha apenas três anos.
Devido a um novo projecto comercial tivemos que viajar para outras cidades e fixarmos residência de até dois anos em cada cidade. Eu e José éramos fiéis ao espiritismo, em toda cidade que passávamos visitávamos os centros espíritas. Nós divulgávamos a doutrina aonde quer que fôssemos. Em 1982 mudámos para Belo Horizonte, onde por dois anos freqüentámos na cidade de Pedro Leopoldo, cidade natal do famoso médium Chico Xavier, o Centro Espírita Bezerra de Menezes. O fundador daquele centro era o continuador das tarefas assistenciais de Chico Xavier, desde que o famoso médium se mudara para Uberaba. Nosso primeiro encontro com o médium de Pedro Leopoldo foi muito marcante. Estávamos impressionados com sua mediunidade. Vários espíritos se manifestavam ali: desde Bezerra de Menezes até Scheilla que, segundo os espíritos, fora uma enfermeira na segunda grande guerra mundial. Ela também era filha do espírito do Dr. Fritz, um espírito que vem se manifestando através de vários médiuns promovendo diversos tipos de curas e cirurgias espirituais. A maioria dos médiuns que se envolveram com este espírito morreu trágicamente para se cumprir o que a bíblia diz em Levítico 20:27. “O homem ou a mulher que entre vós for médium ou feiticeiro, certamente serão mortos, serão apedrejados, e o seu sangue cairá sobre as suas próprias cabeças”.
Neste mesmo dia após fazermos a distribuição de sopa fomos para o interior do centro, onde o médium director convidava diversas pessoas para sentar-se à volta da grande mesa. Aquele velhinho me tratou com muito carinho e foi me dizendo: “Eurípedes Barsanulfo pediu-me que cuidasse de você com muito carinho” Aquilo foi um impacto para mim. Este nome era o do mentor espiritual do centro que eu freqüentara antes. Freqüentei aquele centro por dois anos. Na ocasião meu guia espiritual se manifestou. Ele fazia parte da falange de Scheilla. Conheci os maiores médiuns do Brasil.
Lembro-me de ter compreendido como os médiuns sofrem. Quanto maiores são as manifestações sobrenaturais, e mais alta a posição do espírito mentor da linhagem espiritual, mais o médium sofre. Na maioria dos casos ele padece de doenças progressivas. Acidentes de carro eram comuns. O médium daquela instituição, que passou a ser meu padrinho espiritual, andava arrastando, pois tinha parafusos emendando diversas partes do seu corpo, devido a um sério acidente de carro. Aprendi com ele a renunciar a mim mesmo em favor da doutrina dos espíritos e ser tolerante nos momentos de provas e expiações. Quando certos problemas viessem, teríamos de suportar, tolerar e sofrer em silêncio, para que pudéssemos evoluir. Era um luxo ser médium e ser pobre.
Meu padrinho era muito procurado por pessoas de todas as classes sociais. A resposta era sempre a mesma: Mediunidade. Segundo a doutrina dos espíritos todos são médiuns. Se você já foi a um centro já deve ter ouvido isto. O quadro das congregações espíritas é o mesmo. Muitas pessoas sofrem de perseguições judiciais, perdem seus bens e vão à falência. Vinham em busca de consolo e a resposta era sempre a mesma: mediunidade. “Este é o seu carma, na próxima reencarnação você estará livre desta dívida. A terra é um lugar de provas e expiação”.
Os problemas mais comuns eram os familiares. A cada dez famílias, oito estavam enfrentando desilusões, separação e divórcio. Outros problemas muito comuns eram de ordem psíquica, perturbação espiritual. Em todos os casos os guias apresentavam sempre a mesma solução: renda-se aos espíritos, desenvolver mediunidade, freqüentar sessões espíritas, tomar passe e água fluída. Os resultados eram sempre os mesmos: as pessoas não encontravam uma solução positiva para os seus problemas. Nada melhorava apenas as pessoas ficavam conformadas com o fato de que carregavam consigo uma grande carga de culpas de vidas passadas. Sem conhecer verdadeiramente a pessoa do Senhor Jesus Cristo, o Filho ressuscitado do Deus Vivo.
As pessoas se comprometiam com as práticas espíritas, caridades ajudando as mais infelizes que elas. Quanto aos perturbados, se não se envolvessem com a doutrina espírita, acabavam sendo levados à loucura pelos espíritos e internados em hospitais psiquiátricos como eu fora.
No ano de 1984 mudamos para os Estados Unidos. Durante este tempo fundámos naquele país, EUA, um grupo espírita em Forte Lauderdale, Flórida, que se dissolveu quando voltámos ao Brasil em 1986. Neste período eu já tinha fortes experiências com os espíritos, pois desenvolvera diversas mediunidades. Uma foi a experiência fora do corpo, chamada pelo espiritismo de desdobramento. Conhecida também como viagem astral. Era muito fascinante, pois eu era levada pelos espíritos a diversos locais no mundo espiritual, até países e cidades distantes. Eu volitava pelas montanhas, bosques, florestas, praias e rios. Entrei até mesmo em um vulcão. Já saí de meu corpo e toquei-o fora de mim, passeava pelo meu quarto com meu corpo na cama e tocando todos os objetos de uso pessoal.
Quando eu estava nos EUA, ia ao Brasil levada pelos espíritos e visitava familiares, amigos e etc. Era muito comum eu ter notícias de familiares e amigos antes mesmo que elas chegassem a nós pelos meios naturais. Meu esposo estava habituado a este tipo de experiência que eu tinha. Em uma ocasião, no Brasil, fiquei hospedada na casa de meu padrinho espiritual. À noite eu e meu esposo, estávamos na cama conversando quando vi o meu padrinho espiritual entrar pela porta do quarto. Eu estava tão habituada a exercer a saída do corpo que desejei estar ali com ele. Exerci a queda da respiração, e em segundos estávamos juntos no quarto, em espírito. Fomos para a sala de jantar onde ficámos conversando por dez minutos, eu o acompanhei até ao portão da casa. Ele me pediu que eu voltasse para o meu corpo e ele seguiu volitando para o céu afora. Voltei para meu quarto, entrei em meu corpo e relatei a experiência ao meu marido. Na manhã seguinte à frente de várias pessoas, meu padrinho veio e disse que ontem à noite ele não podia me levar aonde foi. Eu me considerava privilegiada, pois poucos médiuns têm este tipo de experiência. Ficava feliz por fazer parte de uma minoria.
Por várias vezes quando estava em desdobramentos corri sérios perigos. Sempre havia algum tipo de armadilha para me pegar. Na maioria das vezes via meu mentor espiritual ao meu lado. Em algumas ocasiões ele me levava para um túnel escuro, dentro dele eu começava a sentir uma forte pressão, como se um aspirador magnético muito forte me puxasse. Ao ser sugada, o túnel se tornava cada vez mais horrendo, eu sentia calafrios. Muitas vezes eu sentia que uma força diferente me livrava da experiência. Nunca me preocupei mesmo sabendo que corria risco de morte, pois eu confiava no meu guia espiritual. (Eu não sabia quem realmente ele era...).
Meus problemas pessoais e familiares eram grandes; a opressão e a perseguição espiritual vinham de todos os lados. Eu estava sempre doente e muito infeliz. Contudo quando eu olhava meus mestres espirituais, eu me considerava feliz, pois todos sofriam perseguições espirituais, a maioria deles padecia de doenças e enfermidades piores que as minhas. Quem era eu para reclamar. Eu era apenas uma simples cooperadora do espiritismo e dos espíritos, se comparada a grandes médiuns de renome. Quando eles me revelavam meu passado, vidas passadas eu me sentia a pior das pessoas, sem o mínimo de merecimento. Eu sofria calada, sempre esperançosa de uma vida futura melhor, nas próximas reencarnações. Eu renunciara meu direito a um lar feliz, sádio e estável. Eu sentia muita falta do meu filho. A saudade doía. Muitas vezes eu chorava calada por estar distante dele. Buscava nas crianças ao meu redor a imagem de meu filho nas diferentes idades. Muitas foram as vezes que ansiava ter meu filho no colo, beijá-lo, levá-lo ao parque. Entre nós estava a distância, meu marido e a vida nômada e instável. Poucas vezes tive a felicidade de ter meu filho comigo, por alguns dias ou algumas horas.
Líder no Espiritismo
No ano de 1986 voltámos ao Brasil, estabelecemos uma fábrica de confecção na cidade de São Joaquim da Barra/SP. Nesta ocasião ansiava por restabelecer meu lar e ter meu filho comigo. Meu esposo se opôs totalmente à minha vontade, ele não aceitava que meu filho morasse connosco. Meu filho passou poucos finais de semana comigo e, muitas vezes, chorei por isto.
O tempo passava e meus anseios de mãe eram sufocados. Um dia meu padrinho espiritual me trouxe um consolo por parte dos espíritos. Ele pedira ao doutor Bezerra de Menezes (espírito) que lhe apontasse o quadro espiritual entre nós três (eu, meu esposo e meu filho) em vidas passadas. O espírito do Dr. Bezerra de Menezes mostrou-lhe as páginas de um livro que registravam o seguinte Carma: eu e meu actual esposo éramos casados legalmente. Meu filho naquela época era o meu amante e, juntos assassinámos de modo cruel meu esposo. Era, portanto necessário que a dor da renúncia e da separação pagasse o carma contraído. Cri piamente nesta explicação para os acontecimentos. Com isto eu perdi toda energia para lutar ou querer mudar os factos. O barco teria de seguir seu destino. Eu poderia mudar os fatos sim, mas, segundo os espíritos, iria contraír novas provas e novas provações fora do meu destino e teria de pagar tudo de novo em uma vida futura.
Fico a pensar em quantos quadros e situações como estas estão ocorrendo no Brasil agora. Num país onde 40% da população são simpatizantes desta doutrina e crê nestes mesmos fardos, ou piores, quantos corações aflitos passam pelos mesmos fardos que eu, ou semelhantes? Eles vivem oprimidos carregando nos ombros e no coração o sentimento de culpa de vidas passadas, renunciando a seus preciosos filhos e filhas, deixando lares, abandonando cônjuges e entes queridos. Eles vivem miserávelmente por crerem nas mais absurdas farsas enganadoras das supostas vidas passadas.
Passei a me dedicar ainda mais à caridade, pois fazer o bem aliviava meu coração. Dentre muitas acções de caridade que fiz na cidade de São Joaquim da Barra e de Franca, lidei com grupos jovens espíritas e vi que desde cedo sofriam profundas perdas e sofrimentos. Mas seus corações eram sinceros como o meu e se esforçavam por buscar a Jesus. Os jovens pouco sabiam de Jesus. Neste tempo os médicos diagnosticaram um foco convulsivo do lado esquerdo da minha cabeça. Passei a sofrer de convulsões cerebrais. Foi uma época muito dura para mim. O relacionamento com meu esposo era miserável. Eu sentia muita falta do meu filho. Eu guardava no coração as amarguras e sofrimentos do dia a dia. Os médicos me disseram se eu continuasse renunciando a mim mesma daquela forma eu poderia sofrer lesões mais sérias. Era tempo de pôr fim àquele carma. Eu estava segura que se continuasse naquela vida com meu esposo eu ficaria doente e inválida e o perderia de qualquer forma. O mesmo egoísmo que o mantinha unido a mim, faria com que ele me deixasse.
Não foi fácil tomar esta decisão. Como uma pessoa subjugada a outra sofre. Mas Jesus mais uma vez interferiu a meu favor de forma maravilhosa, mesmo sem eu ter conhecimento.
Viajando pelo litoral santista, à tarde, eu e meu esposo passámos frente a uma Igreja Evangélica da Assembléia de Deus. Era um congresso. Senti uma grande vontade de ir aquela igreja. Com o consentimento dele eu fui. O Pastor Marco Túlio Barros pregava a palavra de Deus. Ele deu seu testemunho de como Jesus o havia livrado da prisão e da morte numa viagem missionária no oriente médio. Logo ele fez um apelo perguntando se alguém queria aceitar Jesus. Eu dizia: “Eu já tenho Jesus” Dentro de mim algo me impulsionava a ir, mas eu resistia àquela vontade. Uma jovem veio em minha direção com um olhar materno, segurou em minha mão, me levou até ao altar. Ali eles oraram fervorosamente por mim. Ao final da oração meu coração estava rendido. Senti-me aliviada, mas não sabia o que era. Retirei-me da igreja, relatei o facto ao meu marido e rimos juntos. Mas lá no íntimo meu espírito meditava sobre o ocorrido e guardei aquela cena no coração.
Ali eu ganhei forças e me libertei do jugo que me prendia áquele homem. Logo em seguida recebi um convite de amigos evangélicos dos EUA Mr. e Mrs. Wolpert. Eles queriam me ver novamente e me convidaram a passar um tempo com eles na Flórida.
As convulsões haviam se intensificado. Recebi apoio de todos meus amigos com relação à separação e minha ida para os EUA. Depois disso passei a lidar com um grande inimigo: meu esposo. Ele se recusava a dividir os bens e a indústria que adquirimos juntos. Ele queria me punir por deixá-lo. Paguei mais um preço da separação. Fiquei com quase nada. Fui passar trinta dias de férias com o casal amigo.
Continua: