O DESTINO ETERNO DOS JUSTOS _ O CÉU (2)
CÉU COMO NOVA CRIAÇÃO
A Bíblia fala do destino final do povo de Deus em termos de criação de "um novo céu e uma nova terra" (Ap 21: 1). O mundo presente será destruído (2 Pe 3: 10-13), ou transformado e liberto (At 3: 21; Rm 8: 19-21) para dar lugar à morada dos salvos. Quanto à relação entre a velha criação e a nova, há discussão. Teólogos como Tomás de Aquino e outros católicos dizem que "a graça não destrói a natureza, mas aperfeiçoa-a". Berkhof afirma que os teólogos luteranos apoiam a idéia de que a nova criação será inteiramente nova, recorrendo a 2 Pedro 3: 7-13, Apocalipse 20: 11; 21: 1; ao passo que os teólogos reformados (calvinistas) preferem a idéia de que será uma renovação da presente criação, com apoio em Salmos 102: 26-27; Hebreus 1: 10-12; 12: 26-28.
Anthony Hoekema, confirmando a posiçaõ de Berkhof, apresenta algumas razões no argumento contra o aniquilamento da presente criação:
1) Tanto em 2 pedro 3: 13 como em Apocalipse 21: 1 o termo grego usado para designar a novidade do novo cosmos não é neos, mas sim Kainos. A palavra neos significa novo em tempo ou origem, enquanto que kainos significa novo em natureza ou em qualidade. Então, a idéia é a da emergência, não de um cosmos totalmente outro, diferente do actual, mas a criação de um universo que, embora tenha sido gloriosamente renovado, está em continuidade com o universo presente.
2) O argumento de Paulo em Romanos 8, onde se diz que é a criação actual que será libertada da corrupção no eschaton, não uma criação totalmente diferente.
3) Analogia entre a nova terra e os corpos ressurretos dos crentes. Nestes, haverá tanto continuidade como descontinuidade entre o corpo actual e o corpo ressurreto. Assim será também na nova criação. Creio que esta interpretação está correcta.
A idéia da nova criação, céu e terra, como destino eterno dos remidos, corresponde com as muitas promessas da Bíblia de que os filhos de Deus herdarão a terra e nela reinarão. Também, será um cumprimento mais natural para as promessas relativas à terra prometida que não foram cumpridas (Hb 11: 39, 40). E ainda, destino eterno em termos de terra e céu parece agradar mais aos ouvidos de seres como nós, constituídos de corpo e espírito, feitos para esta terra e céu. Um novo é o que desejamos. Não outra coisa.
LUGAR DE BEM-AVENTURANÇA
A principal ênfase da Bíblia quanto ao destino esterno dos justos é sobre o estado de vida. Céu, portanto, mais que um lugar, é um estado de vida feliz. A Bíblia mostra várias facetas desse estado de bem-aventurança eterna dos crentes. O resumo dessas verdades é apresentado por Walter T. Conner.
1) Completo livramento do pecado.
O estado final dos salvos será de completo livramento do pecado. Haverá santidade completa. Seremos semelhantes a Cristo (1 Jo 3: 2; Rm 8: 29). O pecado não só será estirpado do crente, mas também de toda a ordem social e cósmica de que participaremos. Todas as consequências do pecado serão banidas, e a vida será de gozo abundante.
2) Comunhão irrestrita com Deus.
A comunhão de crente com Deus é a fonte de toda a verdadeira alegria do crente. No céu, a comunhão com Deus, por meio de Cristo será irrestrita. A expressão que melhor expressa esta verdade é: "e verão a Sua face" (Ap 22: 4). Por isto, a alegria no céu será indescritível. A comunhão com Deus implica na comunhão com o Seu povo. Entretanto, a relação fundamental será a nossa relação com Deus. As lembranças de relações familiares estarão subordinadas à relação mais alta. Não haverá casamento (Mc 12: 25).
3) Isenção do mal.
A ordem eterna será de isenção da natureza má, tal como a tristeza, a doença e a morte (IS 25: 8; Ap 7: 17; 21: 4). A completa vitória sobre o pecado implica completa transcendência sobre todas as outras formas do mal. Não haverá mais maldição (Ap 22: 3).
4) Serviço contínuo a Deus.
Serviremos a Deus continuamente (Ap 22: 3). Não sabemos de que forma serviremos. Com certeza, o louvor e a adoração serão tributados para sempre a Deus (Ap 5: 9; 12: 10; 14: 3). Os reis da terra "trazem a sua glória" (Ap 21: 24). J. K. Grider diz que "haverá actividades no céu a ocupar as faculdades mais nobres dos homens. Entre outras coisas, haverá ministérios governamentais". Ele aponta como uma base bíblica Lucas 19: 17, onde Jesus fala do servo fiel que recebeu "autoridade sobre dez cidades".
5) Desenvolvimento constante.
O estado de perfeição não implica que não haja crescimento. Paulo declara que haverá mudança no método e carácter do nosso conhecimento (1 Co 13: 9-12). Conheceremos assim como somos conhecidos. Isto não significa omnisciência. Indica sim um crescimento muito mais completo, e que certamente será constante. Talvez o nosso conhecimento será mais directo e intuitivo do que agora.
No céu, todas as promessas serão cumpridas na sua plenitude. Um novo lugar, para um novo ser, onde a santidade e a felicidade serão plenas na presença de Deus e de Jesus Cristo.
O REINO DE DEUS ESTARÁ NA SUA PLENITUDE CONNOSCO, E ALI VIVEREMOS PARA TODO O SEMPRE. AMEN E AMEN! MARANATA!
Fonte: Manual de Teologia Sistemática
Berkhof, L. Op. cit., p. 743
Hoekema, A. Op. cit., P. 375_376.
Conner, Walter T. O evangelho da redenção. Rio de Janeiro: Juerp, 1981, p. 278-281
"Céu", Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, 1990, v. 1, p. 273