1) O pecado é realizado pelo homem:
“Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:Filho do homem, quando a casa de Israel habitava na sua terra, então eles a contaminaram com os seus caminhos e com as suas ações. Como a imundície de uma mulher em sua separação, tal era o seu caminho diante de mim” (Ez 36.16,17)
Israel, quando habitava em sua terra, não foi fiel a Deus, sendo totalmente pecadora. No livro do profeta Jeremias, vemos isso bem explícito, com Deus profetizando horríveis maldições por causa do pecado deles, inclusive o cativeiro. Israel pecou, e o castigo veio por causa desses pecados. O povo de Israel foi totalmente culpado pelo castigo recebido posteriormente, pois eles mesmos escolheram desobedecer a Deus e seguir os caminhos pecaminosos. Em Jeremias é dito:
“Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o leopardo, as suas manchas? Então, poderíeis fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal… Ai de ti, Jerusalém! Até quando ainda não te purificarás?”.
O livro de Jeremias relata muito bem, não só a pecaminosidade geral do homem, mas a impossibilidade de essa situação se reverter humanamente falando.
Essa pecaminosidade é mais bem explicada em Rm 3.9 – 18, recitando passagens do Antigo Testamento. Citações como “não há justo, nem um sequer”, “não há quem busque a Deus”, “não há quem faça o bem, não há nem um sequer”, etc., explicam que o homem é totalmente mergulhado em seu pecado, e isso faz com que o homem seja necessariamente digno de condenação. O desfecho do Antigo Testamento nos profetas é algo totalmente incrível de se observar, pois, há dois pontos principais: a incapacidade de cumprimento pleno da Lei; a vinda do Messias. Essa tal incapacidade é excelentemente resumida por Paulo em Rm 3.20:
“Visto que ninguém será justificado diante d'Ele por obras da Lei, em razão de que pela Lei vem o pleno conhecimento do pecado”.
O que quer dizer esse versículo? Que o objectivo a priori da Lei, além da profecia do Messias vindouro, era de convencer as pessoas de que elas não conseguiam cumprir a Lei em sua plenitude. Se elas não conseguiam cumprir a Lei em sua plenitude, então, elas são culpadas de toda a Lei, como diz a epístola de Tiago (Tg 2.10).
2) O castigo pelo pecado vem de Deus:
“Derramei, pois, o meu furor sobre eles, por causa do sangue que derramaram sobre a terra, e porque a contaminaram com os seus ídolos; e os espalhei entre as nações, e foram dispersos pelas terras; conforme os seus caminhos, e conforme os seus feitos, eu os julguei” (Ez 36.18,19)
Devido ao contínuo pecado dos israelitas, a condenação era inevitável. Essa condenação viria da parte ofendida na relação entre Deus e os homens, a saber, o próprio Deus. Deus era ofendido com a desobediência do Seu povo, pois, a Lei que tinha sido instituída estava totalmente descartada da prática israelita. Deus profere horríveis condenações ao povo, inclusive que eles seriam entregues, num determinado momento, ao canibalismo.
Dessa passagem, vemos que o próprio Deus condena pecadores justamente. Os homens pecaram, e todos carecem da glória de Deus, merecendo a justa condenação, vinda do próprio Deus. Se nós conseguíssemos mensurar tamanha a intensidade da Ira de Deus contra homens pecadores, cairíamos de temor e tremor, a exemplo dos demônios. Devemos entender que a condenação que os pecadores merecem é semelhante às do povo de Israel, só que num contexto diferente. O inferno é a pior realidade para os pecadores condenados. Além de vermos isso, se torna ainda mais impactante quando reconhecemos o que é, de fato, o inferno.
O inferno nada mais é do que a revelação da Justa Ira de Deus revelada aos pecadores condenados eternamente, perante a Sua presença! Quão amedrontador é isso? Que mensagem pode ser mais ofensiva do que esta? A de que nós, como pecadores, iríamos ficar eternamente na presença de Deus, porém, não O vendo com olhos graciosos de Pai, porém, evitando vê-Lo, pois estaria com olhos de impensável Ira sobre cada um. Quando medito sobre essa realidade, sinto-me constrangido a me remoer implorando misericórdia e agradecer desesperadamente e apaixonadamente pela graça.
“Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo… porque o nosso Deus é fogo consumidor”.
3) O pecado humano não tem fim:
“Em chegando às nações para onde foram, profanaram o meu santo nome, pois deles se dizia: São estes o povo do SENHOR, porém tiveram de sair da terra dele. Mas tive compaixão do meu santo nome, que a casa de Israel profanou entre as nações para onde foi” (Ez 36.20,21)
O povo de Israel, mesmo permanecendo em cativeiro, recebendo a condenação ha muito profetizada, tendo consciência de tudo isso, continuou em pecado, profanando o nome do Deus de Israel. Israel fez de tudo para que a Ira do Deus vivo se manifestasse cada vez mais claramente, porém, Deus “…suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição” (Rm 9.22). Deus tem longanimidade para com os “vasos de ira preparados para perdição”, para que o Seu propósito, decretado desde antes da fundação do mundo, se concretize. De facto, não no sentido semelhante, mas a ideia de que os fins justificam os meios de Nicolau Maquiavel é correto.
Deus, porém, observando que o homem necessitava da ajuda dEle, da influência direta dEle do resgate dEle, colocou como foco o amor a Seu nome. Pode soar um pouco egocêntrico, porém, Deus tem todo o direito de fazer tudo para a Sua glória. Deus fez e decretou tudo para que a Sua glória fosse manifesta. Deus viu que iria, sim, intervir na situação de Israel, mas não por amor ao povo de Israel ou por querer ajudar o povo, mas sim, por amor de Seu nome, pois estava sendo profanado.
4) A salvação depende inteiramente de Deus:
“Dize, portanto, à casa de Israel: Assim diz o SENHOR Deus: Não é por amor de vós que eu faço isto, ó casa de Israel, mas pelo meu santo nome, que profanastes entre as nações para onde fostes.Vindicarei a santidade do meu grande nome, que foi profanado entre as nações, o qual profanastes no meio delas; as nações saberão que eu sou o SENHOR, diz o SENHOR Deus, quando eu vindicar a minha santidade perante elas.Tomar-vos-ei de entre as nações, e vos congregarei de todos os países, e vos trarei para a vossa terra.Então, aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei.Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis. Habitareis na terra que eu dei a vossos pais; vós sereis o meu povo, e eu serei o vosso Deus.Livrar-vos-ei de todas as vossas imundícias; farei vir o trigo, e o multiplicarei, e não trarei fome sobre vós. Multiplicarei o fruto das árvores e a novidade do campo, para que jamais recebais o opróbrio da fome entre as nações. Então, vos lembrareis dos vossos maus caminhos e dos vossos feitos que não foram bons; tereis nojo de vós mesmos por causa das vossas iniquidades e das vossas abominações” (Ez 36.22 – 31)
Tudo o que Deus narra que fará a Seu povo irá ser feito por amor apenas de Seu glorioso nome. O Seu povo seria reunido novamente e retornaria para Israel, e, então, seriam purificados (“e ficareis purificados”), seriam regenerados e transformados (“dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós um espírito novo”), seriam convertidos (“farei com que andeis nos meus estatutos”), seriam abençoados e reconhecidos como povo de Deus, de facto.
Interessante de se observar aqui é que NADA do que é dito vem da terceira pessoa, mas sim, da primeira pessoa. Quando Deus narra a transformação do homem, Ele não diz que o homem se transformaria, mas que seria transformado. EIS AQUI A CHAVE PARA DESTRUIR TODO ANTROPOCENTRISMO “CRISTÃO”, TODOS OS ERROS ARMINIANOS, TODOS AS VAGAS IDEIAS DE SALVAÇÃO GOVERNADAS PELO DECISIONISMO: DEUS TRANSFORMA VOCÊ, NÃO É VOCÊ QUE ESCOLHERÁ SER TRANSFORMADO.
Após Deus regenerar o ser humano, Ele também diz que o Seu povo teria “nojo [deles] mesmos por causa das… iniquidades e das… abominações”. Vemos aqui um relato muito importante sobre a fé e o arrependimento. Os dois não viriam antes da regeneração, mas depois. Conclui-se, então, que a fé e o arrependimento são dons dados gratuitamente por Deus. Tudo o que vemos aqui nessa passagem É GRAÇA. A regeneração, a conversão, as bênçãos, a adoção, a fé e o arrependimento… TUDO É GRAÇA DE DEUS.
Queridos irmãos, não tenham a audácia de dizer que as pessoas decidem ir a Deus, porque, naturalmente, elas nunca desejariam. Não permita que as pessoas tenham uma ideia errada de salvação, pois, muitas vezes, pessoas passam a ter a convicção de que é salva porque ela quer, não porque Deus a escolheu, e isso faz com que a pessoa se sinta salva, não sendo.
Que Deus nos dê a graça de vermos uma igreja verdadeiramente bíblica. Que o monergismo não saia da língua dos pregadores, e que Deus seja glorificado em cada uma das sílabas recitadas por estes.
SOLI DEO GLORIA
Diego Beltrame
Font: http://projetovidaemreforma.wordpress.com/2012/10/04/condenacao-e-salvacao-de-quem-e-a-culpa/