O Messias e a "Bíblia Falsa"
No começo de 1966, o jovem judeu Barry Leventhal estava no auge. Como atacante e capitão da equipa de futebol americano da UCLA, Barry acabara de levar a equipa dessa universidade — que todos achavam que ficaria em último lugar naquele ano — a vencer pela primeira vez no Rose Bow1.
"A minha vida era fantástica!", relembra ele. "Eu era um herói. As pessoas amavam-me. A minha comunidade judaica escolheu-me como atleta nacional do ano. Eu estava a desfrutar toda a glória disso."
Logo depois da vitória no Rose Bowl, Kent, o melhor amigo de Barry, disse-lhe que havia conhecido Jesus Cristo de maneira pessoal.
"Eu não tinha a menor idéia do que é que Kent estava a falar", disse Barry. "Sempre achei que ele era cristão. Além do mais, tinha nascido num lar cristão, assim como eu havia nascido num lar judeu. Não é dessa maneira que uma pessoa encontra a sua religião particular? Você herda-a dos seus pais."
Mas Barry estava intrigado pela mudança na vida de Kent, especialmente quando Kent lhe disse:
— Barry, eu quero que tu saibas que agradeço a Deus todos os dias pelos judeus.
— Mas, porque é que fazes isso? — perguntou Barry. A resposta de Kent foi uma total surpresa para ele.
— Sou grato a Deus todos os dias pelos judeus por duas razões — começou Kent. — Em primeiro lugar, porque Deus os usou para me dar a Bíblia. Em segundo lugar, e mais importante, Deus usou os judeus para trazer o seu Messias ao mundo, aquele que morreu pelos pecados de todo o mundo e, especialmente, por todos os meus pecados — disse ele.
''Até hoje, lembro-me do impacto daquela declaração simples mas verdadeira", recorda-se Barry. "Cristãos genuínos não odeiam judeus. De facto, eles realmente amam-nos e estão agradecidos e honrados pelo facto de Deus os ter incluído pela fé na sua família eterna."
Algumas semanas depois, Kent apresentou Barry a Hal, o líder da Cruzada Estudantil para Cristo no campus da UCLA. Certo dia, Barry e Hal estavam sentados no grande salão social dos alunos quando as coisas ficaram bastante tensas. Conforme Hal ia mostrando a Barry as predições do Messias do AT que foram cumpridas por Jesus, Barry deixou escapar uma frase:
— Como podes fazer isso?!
— Fazer o quê? — perguntou Hal.
— Usar uma Bíblia falsa! — acusou Barry. — Tu tens uma Bíblia falsa para enganar os judeus!
— O que é que tu queres dizer com uma "Bíblia falsa"? — perguntou Hal. Barry respondeu:
— Vocês, cristãos, pegaram as assim chamadas profecias messiânicas do seu próprio NT e então reescreveram-nas na sua edição do AT para enganar os judeus. Mas eu garanto-te que essas profecias messiânicas não estão em nossa Bíblia judaica!
— Não, Barry! — respondeu Hal. — Não é nada disso.
— É sim, essa é uma Bíblia falsa! — gritou Barry, enquanto saltava da cadeira.
— Não, não é! — disse Hal mais uma vez, surpreso diante da acusação. — Ninguém jamais me disse isso. Por favor, senta-te.
As pessoas começaram a prestar atenção à discussão. — Não, Hal. A nossa amizade encerra-se aqui!
— Barry, Barry, espera um minuto. Tu tens o teu próprio Tanach [o AT em hebraico]?
— Sim, eu recebi um no meu bar mitzvah. E daí?
— Porque é que tu não tomas nota desses versículos e vais lê-los no teu próprio Tanach?
— Porque isso será perda de tempo! — respondeu Barry. — Esses versículos não estão no Tanach!
— Por favor — insistiu Hal. — Simplesmente toma nota desses versículos e verifica-os por ti mesmo.
Os dois rapazes discutiram até que Barry — para se livrar de Hal — concordou em verificar os versículos.
— Tudo bem — disse Barry, enquanto tomava nota das referências. — Vou verificar isso. Mas não me ligues; eu telefono para ti!
Barry saiu, esperando nunca mais ver Hal. Ele não verificou os versículos por vários dias, e, então, a culpa começou a atormentá-lo.
" "Eu disse a Hal que iria verificar", lembra-se Barry, "e, assim, eu deveria pelo menos fazer isso e colocar essa coisa de cristianismo de lado de uma vez por todas!"
Naquela noite, Barry tirou o pó do seu velho Tanach — aquele que ele nem sequer havia aberto desde quando completou 13 anos de idade — e ficou chocado com o que encontrou. Cada uma das predições que Hal havia citado realmente estava no Tanach!
A reacção inicial de Barry foi: "Estou numa tremenda enrascada! Jesus é realmente o Messias!".
Contudo, naquele momento, a aceitação de Barry foi apenas intelectual. Ele começou imediatamente a preocupar-se com as implicações de tornar pública a sua descoberta. "Se eu aceitar Jesus como Messias, o que é que os meus pais vão pensar? O que é que os meus amigos da comunidade judaica vão fazer? O que é que o meu rabino vai dizer?"
Foi preciso mais estudo até que Barry fosse a público, especialmente em relação a uma passagem à qual Hal se havia referido várias vezes: Isaías 53. Antes de revelar a conclusão da pesquisa de Barry, vamos analisar o capítulo 53 de Isaías e algumas outras profecias messiânicas que ele estava a investigar.
Notas: Rose Bowl é o nome do jogo realizado entre os vencedores dos dois principais campeonatos universitários de futebol americano, o Pac Ten (dez universidades da região da costa norte-americana do Pacífico) e o Big Ten (dez universidades do Meio-Oeste norte-americano) [N. do T.].
288 O testemunho de Barry foi extraído de seu capítulo em Norman GEISLER & Paul HOFFMAN, eds. Why I am a Christian: Leading Thinkers Explain Why They Believe. Grand Rapids, Mich.: Baker, 2001, p. 205-21, e de nossas conversas pessoais com ele .
Continua: O Servo Sofredor
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